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15.10.10

14 anos de Bienal: minha história.



para mim, a Bienal de Dança do Ceará começa em 1999.

eu, aluno do Curso de Arte Dramática e sedento em ter um corpo que falasse.

primeiras visagens: Cajueiro Botador, de Silvia Moura, A Dança de Clarice, de Andréa Bardawil e Catu Macã, de Anália Timbó.

era assim a Bienal, cheia de sopetões... tudo ao mesmo tempo: diversos meios, diversas formas e um olhar mais que aprendiz: um olhar que queria, desejava, ainda sem saber, sendo iniciado naquele mundo que se mexia.

depois me lembro de um moço (Cláudio Bernardo) descendo, pendurado do alto até uma mesa. tinha tanta coisa naquele trabalho, mas descobri que o barulho da unha dele era cena e comecei a entender dramaturgia em Dança.

então foi este o início: um convite ao incerto que varia.

engraçado... cearense é tão "acanaiado" que deve ser o único povo do mundo a ter bienal todo ano! e é tão bom! sempre me entorta, me tranforma e põe o pensamento em caminhada: nos eixos, nada sobrevive, tudo se alterna e em meu corpo percebo as mudanças.

tenho envelhecido com a Bienal, crescido, amadurecido, aprendido a falar, olhar, me ver, gostar, regurgitar.

alguns trabalhos me causam um orgulho de pertença. me envaideço e quando vejo, o meu trabalho, a minha dança, vira conversa com um povo que nunca me vê nem verá.

mas estou cá dialogando, respondendo questões que foram postas à minha mesa, sempre farta. hoje ouvi de uma professora, Lourdes Macena, o que cabe aqui: "ah se o velho pudesse ou o jovem soubesse!"

tinha medo tantas vezes de ficarmos iracemados, no cais, de olhos grudados no mar, esperando o que há de vir. mas nem ficamos. não sei bem o que tem por aqui, que fuligem é esta que nos entranha de maracatus, reizados, caretas, que em tudo ou nos identificamos ou temos uma conversa a puxar. e isto em dança. temos um combustível que é nosso.

o que hoje se fala e experimenta foi feito por aqui, pelo povo antigo... matrizes corporais, vivências entre tempos reais, virtuais, todos os jogos, se estabelecem nos terreiros, são identificáveis nas jornadas de danças dramáticas e cortejos, palco e platéia, quebra de fronteiras tudo isso está em nós entranhado e por isso, mesmo quando não nos reconhecemos ou nem sequer conhecemos aquilo que nos identifica como este povo, nos deixamos ser porosos. o que a Bienal faz então, sobretudo, é diminuir as distâncias, fermentar as misturas, aglutinar os sabores e experimentar na mistura dos cheiros o gosto que fica. as vezes é de saudade.

eu conto essa história de 14 anos de Bienal dançando. vendo dança.

vontade de tomar um mapa de Fortaleza e desenhar os percurssos, pegar as programações e entender onde eu era gente, com quem andava, como corria de um lugar ao outro: bóra que senão só daqui a dois anos... ih, besta... nem é mais! rsrsrs ano que vem sempre tem de novo. outro, tudo novo, mas sempre o mesmo: sempre dança! e eu que escondia o meu primeiro crachá (porque tinha crachá!) de bailarino: eu era ator!

14 anos... valha! isso é uma surpresa... não me dava conta. num tempo de instantâneos perduramos. nos mantivemos. estamos juntos. convivemos, compartilhamos, estreitamos. que venham mais 14 anos de Bienal!

tantas lembranças... principalmente! tantas não foram digitadas! rsrsrsrs.

Bienal também é tempo de amores, paixões, fugas de coxia. senão nem seria dança...

beijos na alma e no coração.

Paulo José.


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