xok:

agora... adentre: entre: se toque, se pop, se top, me provoque!

23.11.11

:

tu sabes que te quero.



tu sabes que me tem.

meio selinho, um corpo inteiro,


meia boca,


um passeio pelos pêlos...


um resto, reto, teso,


tu sabes que eu quero.


bem sabes que me tem.



eu espero.

dia desses escuto:

vem!

18.11.11

:

ainda:
penso:
falo:
lembro:
espero:
sinto:
curto:
fico a curiar:
fico a sorrir:
fico a cantar!

and you?

15.11.11

:

sim, eu quero.
aceito como se fosse o sim ao pé de um altar imaginário,
casando à beira do mar
quando é somente um passeio bom!


sim, eu quero.


não choro, aprendi a entender a sua poesia,
seu sol, sua lua.
também quero, mais um dia: somente um?


será que é tarde demais?


poucas palavras.
tenho guardado comigo: cá: carcomido.


ai, amigo, eu desta tua fruta ser/ter comido!


bom dia. como vai você?


que cor meu pensamento tem: as cores de coisas e coisas e coisas que não lhe mostrei: ainda!



11.11.11

ouvindo.

 Ney Matogrosso - Novamente by azul choque

o tempo flui!

ouvindo.

 Tudo é amor Ney Matogrosso Laura Finocchiaro e Cazuza by azul choque

tudo, mesmo se for por carma!

pra ouvir.

 Cazuza - Frases Perfeitas by azul choque

desinventar as solidões a dois!

uma caixa.

listas brancas são formadas pelos espaços.
o que existem são listas pretas e cinzas.
o espaço entre uma coisa e outra vira coisa também.


na rua, asfalto. entre uma mão e outra, um canteiro.
eu vi uma árvore com flores amarelas.
que flores seriam aquelas?


pensamentos curtos,
circuitos,
inteligências de não pensar: lembrança ao contrário: quede?


será que alguém dança a minha música?
mensagem que se atira ao mar, flutua?
engarrafamento de palavras em fila...


de três em três
os números se multiplicam.
quem entende? eu? entendo nada.


:


deixa eu dizer uma coisa: e por falar em...
deixa eu dizer uma coisa: gosto muito de...
deixa eu dizer uma coisa: queria ver...


quem nada pode dizer, canta.
eu canto um desconcerto.
onde, minha orquestra de sorrisos fartos?


vou recomeçar: estou tão asperamente solto...
vou recomeçar: estou tão solto...
recomeço: solto.


novo início: assim que começa:


então, é assim que começa:


_oi.
_...
_saudade.
_...
_está bem?
_...
_pois é... e seu dia? o meu...
_...
_não. desculpa. palavras não. nada de escritos. deixa que quando estiverem meus olhos nos seus eu me viro!

9.11.11

:

quanto a mim não canto segredos: guardo.
medo já não sinto: desistência potente dos medos!
medo: coisa que espalho em dança, música, palavras.
quando falo de amor
lembro dos seus olhos vendo os meus.
cedo.
então era lampejo?
quando de desejo falo
lembro dos meus olhos vendo os seus nos meus.
de toda forma minha boca se mostra: macia, vermelha, desejada da sua: macia vermelha, contornada.
mas, garganta abaixo, coragem guardada para que nenhuma palavra a mais se faça.
no peito nenhum sufoco: somos loucos?
quero a transparência do cristal, a carne rasgada, a cena invadida:
o poema!

me vi assim nos seus olhos:
brilho e beleza devolvidos.
ganhei um tema ao fim do mês:
colo de madrugada: vossa alteza, ri de mim e me faz ainda mais leveza.

o resto?
o resto eu deixo por conta das luzes apagadas e das velas acesas.

:

Pra ter saudade tem que ter
tido tempo?
tem que ter
tido?
tem que ter 
sido?


Pra ter saudade de você, menino
eu teria que ter te roubado um beijo
matado desejo
provocado cores vermelhas
em teu rosto rosado
teria que ter
te lambido o corpo
mordido as orelhas
trançado seu dourado bigode
e feito coisas, menino,
pra ter saudade,
que nem o diabo pode!

8.11.11

:

Não
Ao beijo não
Ao toque não
Nem visagem
Não
Desejo não
Provoque não
Nem se afaste
Me olhe só
Se lembre só
Só saudade
Me goste só
Se molhe só
Só vontade
Tem
Tem medo tem
Tem tempo tem
De passagem
Tem
Tem vida tem
Tem jeito tem
De paragem
Entre o que quis e o que fui
Entre o dito e o dizer
Não tem só o que inclui
Não tem só o que querer...
Visagem: afaste a saudade da vontade
Vontade: saudade da visagem que se afasta
Afaste: a visagem da vontade de matar essa saudade do que quis ser e não fui.
Me inclui?

7.11.11

entendendo as músicas do CD.ou remoendo.

1:

qual a direção da liberdade?
resistir?
desistir?

: em mim um vento que me tire do sentido contrário?

em meu peito o tempo, outro tempo, um movimento de dentro balançando o de fora.

escutar: dança de temperos e paz: despedida da saudade.

2:

quede meus calçados de esperar?
quede o parque, a chuva, a nuvem que deixou o céu tão lindo?
nem chorar nem sofrer.
insistir?

a vida... é assim mesmo. a vida.

derrubei fora a caixa de sapatos.
agora sem escadas, Cinderelas nem príncipes?
história chata.

ouço a batida da música e desejo os castelos, o reino.
reinar.

quer reinar comigo?

3:

depois: aquilo que só existe quando o agora passa.

passado: antes de qualquer futuro que nunca se poderia adivinhar.
desejo: sabor na boca antes do gosto.
esperar: por nada?
em vão: aquilo que não adianta.
resposta: aquilo que quero e não que deveria ser.
melhor: hei de ser também.

nós dois: tivemos momentos?
momento: de quanto tempo se faz um momento?
história: somente com a contagem do tempo.
tempo que passa: viva sem mim.

viver sem mim: uma chatice.

retratos trocados, panos repassados: amar à vontade.
depois...

seja feliz. serei também.
depois?

4:

faz bem, não faz mal, faz bem:
para, Paulo, para.

alguém: outro alguém.
direção: liberdade?

só pode fazer bem: a tecla do piano insistente já não fere:
lembra que eu disse que era difícil, que era dolorido?

doendo menos.
fazendo bem.

5:

fui, falei, escrevi: iniciativa e entrega: dois preços.
no seu lugar, o que você faria?
loucura? besteira?
quem paga pra ver?

um dia: sem culpa e sem passagem de horas...

eu tenho quanto a perder?
e você?
quanto se poderia ganhar?

o que se quer?
quem tem o que se quer?

o tempo: o tempo dirá.

tempo: aquilo que passa.
tempo: aquilo que congela.

6:

nada: o que nem é inteiro.
tudo: o que se vê?

meu mundo: de A a Z.

vem?

dentro, fora, indo: saindo?

o tanto do tanto que eu vejo.

juntos: distantes.
diferença: sabor de uma fruta gogóia que não se come.

7:

poderia te fazer feliz?
ser feliz?
sermos?
poderíamos ser?

o que faço bem?
beijo roubado ou o desejo de que se roube o beijo?

caindo: segura?

quedas para o alto no abraço de céu.

sinos, redores, canções ao amor que não veio.

ilusão: sal doce.

8:

na caixa, nem lenços, nem outros guardados, nem beijos, nem Romeu e Julieta, tapiocas, lampejos, nenhum retalho de pele, nem um molho de tempo, nem nem.

branco seria o lenço, amarelo, vermelho carmim, em minha mão ou na sua, quem deixaria cair e quem guardaria?

ilusão: açúcar salgado.

amigo, ficou comigo o cheiro que do meu corpo roubou no teu:
abraço de céu.

esqueço: ?

a tarde... e depois a noite: frio.
o dia: os dias: meu coraçãozinho apertado: quem vai e quem fica?

partir: ir e ficar: ir sem querer ficar: ir sem ficar.

9:

ainda bem:
realmente:
fiz:
você:
ninguém:
mim:
afim:
de:
meu:
estava:
solidão:
lado:
ficar:
ficar:
feliz:
faz:
assim:
o:
aposentado:
nenhuma:
sido:
transformou:
chegou:
faz:
você:
cantar:
assim:

10:

aquela canção...
me manda pro inferno,
me liga e canta pra mim.
me fere de carinho:
em meu ouvido:
para, Paulo, para.

em seu ouvido:
a nota melhor.

mas você é mais forte.

11:

quem viu?
alguém sentiu?
o que se percebe no brilho do olho que denuncia?

o que rolava?
nada?

desconfiava...

eu sei o que eu sentia: você queria?
quem procura e quem se esconde?
quem se deixa achar?

agente se acha? se encontra?

só pensando... de repente...

eu não sabia não!

algum dia.

12:

em casa.

13:

ser feliz.
raiz, razão, a flor de lis que nem vi, a estrada, a vida, sina, curta a vida, largo, céu, mar, corrida:

ó o meeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeei!

ser: estar?

pudor: caráter: vergonha: medo: frescura: despedida...

curta a vida: curta, a vida.

14:

o aqui dos lugares...
o pra que das coisas...
o lugar das idas...
o saber dos estares...
os lugares... os cheiros... os medos.

5.11.11

:

então...
pescoço doendo de olhar pra trás...
quede?
virá?
ao lado uma cadeira vazia,
mochila guardando lugar.
sorriso de ocupação!
quereria um papel celofone transparente?
gente!
...
só eu pra pensar em oferecer um celofone de presente...
ai, ai...
o coração, ao menos, seja transparente.

24.10.11

Paulo José: de Mundoso.


Meu nosso Vô Mundoso.
Fui filho de Zé de Mundoso, de Ana de Mundoso desde que me entendi por gente.
Sou Paulo de Mundoso, sou Mundoso, sou neto e sou o palhaço que ele um dia fugiu para ser.
Sempre achei lindo seu caminhar ligeiro, seu tempo rápido, curto, sua urgência.
Seu olhar sorrateiro, meu avô, vive também em mim.
Guardo dele poesias, notícias em jornal,
mas sei que o que guardo delas era um orgulho bom, uma vaidade linda que ele tinha em ser tão gente!
Fico muito feliz em vocês serem tão fortes, estarem tão juntos.
Meu coração está aí, ainda que meu corpo sem coragem não assuma a presença.
Tenho falado com mainha, quando pude com ele também.

Esse mês é de dança em Fortaleza, e eu, bailarino ator e palhaço que me meti a ser,
estarei trabalhando todos os dias, minha cabeça que não se concentra e meu coração que Mundoso fica.
Quero compartilhar um escrito, assim como ele também me dediquei a isso.
Quando um dia me perguntaram de onde eu vim e de como me tornei artista:

(As histórias antigas de nossa família nem sempre foram confirmadas como aconteceram de fato, no entanto, a poesia delas nunca deixou de me mover)

Circo no meu imaginário não é substantivo.
Não, Circo para mim é nome próprio.

A minha relação com o Circo é bem próxima. Chego a não me reconhecer nela.

Pensar a História da arte pela ótica do Circo pode tomar o norte de pensar a história da arte em minha vida e, dessa maneira, a minha vivência com o Circo.

Então inicio este relato quando meu avô tinha doze anos, no ano de 1938, quando por vontade de liberdade e de libertinagem resolveu fugir com o Circo. Naquele ano ele estava apaixonado por uma equilibrista e sempre se dispôs a fazer o que fosse preciso para conquistar seus possíveis amores. Desta vez resultou no seu ingresso ao novo universo, onde se tornou Palhaço. Trabalhou no Circo por um ano, mas não agüentando a rotina e desiludido da paixão, retornou para a cidade de Araripina, no Pernambuco, onde esteve fincada nossa família e onde ficou timidamente adormecido seu picadeiro.

O Circo tem sido nômade. Assim nós. Meu tataravô foi achado numa seca no estado do Ceará. Não sei em que ano. Teria de me agarrar à matemática para descobrir, mas isto não vem ao caso agora. O importante é que uma família o encontrou abandonado, esquecido ou sei lá o que, mas de qualquer forma deixado, por alguma família retirante, emigrante... Naquele dia ele passou a ser da família Mota.

Esta família, numa outra “oportunidade” de seca também seguiu seu rumo em direção a terras que lhes oferecessem melhores condições de sobrevivência. Já era então a geração do meu bisavô que seguia seu destino. Em algum ponto da estrada a família arrancha-se para dormir. Ao raiar do dia meu bisavô encontra-se somente com os seus. Seus filhos, sua mulher, sua roupa do corpo. Seu irmão, o chefe da outra família que emigrava sertão adentro, à surdina foi-se embora levando o pouco que ainda tinham. Animais, mantimentos, bagagens. Dividia-se a família Mota.

A parte de cá pegou rumo para o Pernambuco. Foi quando por um tempo fincou-se em Araripina. Neste tempo veio ao mundo a geração de minha mãe e consigo a minha.

Minha mãe não foi do Circo. Apenas brincou de ser Diana em festas de Pastorinhas.

Quando eu tive os meus doze anos, já era de praxe a chegada de Circos na cidade. Morávamos, eu, minha irmã e meus pais, num canto da cidade ainda em ocupação, portanto com muito espaço para que os visitantes montassem sua grande lona. Não lembro de lonas furadinhas em minha infância. Tudo era só encanto e sempre tive uma propensão a enxergar as coisas a partir de um deslumbramento ofuscante. Buracos na lona se existiram, não foram importantes: eram todos os Grandes Circos que chegavam à minha cidade.

Queria estar presente a todas as sessões. Filho de Pedreiro e Dona de Casa não havia uma renda que possibilitasse isso. O que nunca foi problema. Já estava contagiado demais de correr atrás do carro de som respondendo: _Tem sim, senhor! 

Então, aos doze anos eu também já tinha minha rotina. Sempre que chegava Circo em minha cidade, o que acontecia uma vez por ano, sempre ao final do ano, já que os parques chegavam ao meio, eu estava em prontidão. Para garantir minha entrada eu me tornava essencial ao Circo. E o meu acesso se dava pelo trabalho. Durante o dia carregava baldes com água de minha casa, a uns duzentos metros da lona, para as obrigações diárias que precisavam de água. À noite eu era um dos vendedores de pirulitos de açúcar queimado. Sabem aqueles em forma de guarda-chuva que agente carrega num tabuleiro todo furadinho? Pois então. E eu tinha ódio quando alguém me chamava, porque significava perder uma risada, um gracinha de um Palhaço, uma presepada de um Trapezista, um feito, um acontecimento! Porque no Circo tudo é uma boa ocorrência!

Aos quatorze anos voltamos para o Ceará, eu minha irmã e meus pais. Agora fugíamos da seca de 1993 no Pernambuco. Meu pai precisando de água para trabalhar não podia permanecer em Araripina. Escolhemos Fortaleza.

Chegando aqui descobri um novo mundo! Na escola comecei a escrever poesias e peças teatrais. Desenvolvia sempre os trabalhos escolares com certa espetacularidade: tudo era sempre acompanhado de uma música, um vídeo, uma poesia, um texto... Nunca houve dança. O corpo dormia.

Em 1999, quando saia do meu segundo grau escolar, descobri o Curso de Arte Dramática, da Universidade Federal do Ceará. Fiz o teste e passei. Ali meu corpo começa a acordar-se com as aulas de Bethânea, uma professora que me iniciou na arte da acrobacia. Naquele mesmo ano vi meu primeiro espetáculo de Teatro: A Serpente, com direção de Ghil Brandão e Meus primeiros espetáculos de Dança de uma só lapada: Cajueiro Botador (de Sílvia Moura), A Dança de Clarisse (de Andréa Bardawil) e Catu Macã (de Anália Timbó). Neste ano vi também Nada, Nenhum e Ninguém, espetáculo de palhaços de Cláudio Ivo, Acleilton Vicente e Sâmia Bitencourt. Este outro universo me chamava: No primeiro festival SESC Cariri, ainda em 1999, fiz minha primeira aula de acrobacia com Acleilton, no Crato. Ficou o gostinho na boca e no corpo. Era sede.

Acabado o CAD entrei para a aula de palhaço que o Cláudio Ivo ministrou naquele ano. Desta forma nasceu a sexta geração: meu primeiro palhaço, que se chamou Dandão.

Ano seguinte fui contratado pela ETTUSA para estrear o espetáculo Circotrânsito, fazendo o Palhaço Vermelho por mais de um ano, apresentando-me nas escolas municipais de Fortaleza.

A esta época já havia integrado o elenco da Cia. Vatá de Valéria Pinheiro e meu corpo já desarnava para a Dança. Nesta companhia tive aulas de tecido circense com Acleilton Vicente, Sâmia Bitencourt, Renatinho e Luciana Belchior.

O tempo passou. Chegamos a dois mil e seis. Em agosto deste ano nasce minha filha, Anastácia Menina, Também desta sexta geração. Desde pequena sempre se deu bem com as máscaras de Palhaço. Levávamos a criança para nossas apresentações, agora contratados pela Ultragaz, também em peça educativa e de palhaços. Ela então se habituou às pinturas, maquiagens, mudanças de voz, trejeitos, corpos e enchimentos de esponjas.  Melhor lugar para seu sossego nesta época era perto de uma caixa de som com música nos Teatros. Neste ano de 2006 nossa Associação, a Artelaria Produções teve sua sede na Avenida da Universidade onde ministrei aulas de tecido circense todos os sábados deste ano.

Em dois mil e sete fizemos parceria com uma empresa de consultores. Como se deu: na Praia das Fontes, recebíamos determinada empresa na sexta-feira sob a lona de um Circo, o Circo do Motoca, também contratado. Os funcionários recebidos não sabiam do que se tratava. Vieram numa viagem surpresa. Direto ao circo antes mesmo de qualquer check-in ou coisa parecida, realizávamos para eles o espetáculo. No final da noite recebiam a notícia que no sábado teriam aula pela manhã, a tarde montariam e produziriam um espetáculo circense e, no domingo pela manhã fariam a apresentação para a população de Beberibe. Esta parceria e projeto já se realizaram por três vezes com três empresas diferentes: Servis, O Povo e Ultragaz.

Na primeira vez que fizemos este trabalho levamos a Anastácia que ainda mamava e não queríamos deixá-la. Acabou que Anastácia encerrou o espetáculo do domingo, vestida e maquiada de Palhaça, soltando uma pombinha das mãos como deixa para uma chuva de balões no Picadeiro. É a sexta geração dando cria.

Em 2008 Anastácia tinha dois anos, estudava e estava ensaiando na escola uma coreografia para o final do ano, onde foi selecionada pela professora a dançar de Palhaça.   

A minha relação com o Circo é mesmo bem próxima. Chego a não me reconhecer nelaAprendi e me acostumei a encontrar no Circo o amparo, a amizade, a companhia, a proximidade, a intimidade. O Circo pra mim, com tudo o que nele está contido, é digno de ser nome próprio o tempo inteiro. Que eu seja apenas a criança sorrindo e correndo, até hoje atrás do carro de som a gritar: _Tem sim, senhor! Que eu seja para o circo apenas o intruso, o vendedor de pirulitos e aquele que carrega água. Porque o mais certo no que poderia ser em minha vida de circense é isto: aquele que fica sorrindo enquanto contempla o que se passa no Picadeiro. Sou platéia. Platéia que não paga, até hoje. Não com dinheiro. Para estar no circo aprendi a pagar com trabalho, ainda que para isso esse trabalho algumas vezes se dê no Picadeiro, o que é fingimento gaiato de herdeiro de Palhaço. No Picadeiro eu retiro a máscara e assumo para a platéia minha condição de ser igual a ela. No Picadeiro na verdade nunca gostei de usar máscara ou maquiagem. Mas nem por isso escrevi meu nome em letras maiúsculas. Eu queria logo era que meu ofício terminasse e que eu desse a volta na lona e ficasse lá do meu lado torcendo pelos artistas: que Deus proteja o Homem Aranha, que guarde o David no tecido, que os Palhaços sejam também felizes e que a mágica do Pedro dê certo e me engane.

Quando vou me apresentar no Bom Jardim, paquero o Circo que está no caminho, faço planos de ir lá e concluo: Circo é saudade. Circo é sede. E, fugitivo da seca que sou, quero Água. 

Ao meu avô, dedico todas as minhas danças deste mês, desta vida.
Que ele seja lindo sempre sempre, que nosso Pai o recolha em alegria, que as estrelas nunca parem de brilhar para além da lona.

Eu, Paulo de Mundoso, amo vocês!
Que a paz de Deus reine em nossos corações e ajude a cada um transformar essa hora também num alegria possível: comemoremos tanta coisa, tanta vida: tudo, tantos, dele e da minha eterna Nininha nascemos!
Amo vocês família Mota Alencar.


23.9.11

aos que começam a se amar!

pra vocês 


as mais lindas ruas, 


luzes, 


luas! 


pra vocês as melhores cores, 


os melhores sabores. 


e quando tudo isso acabar, 


um abraço bom 


pra entender que vocês são maiores que tudo isso 


e ficarão lindos, 


ainda que em breves tons de cinza!

22.9.11

de Pablo Neruda

Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.

28.8.11

:


tem uma hora que o que se torna por dentro,
sim, assim mesmo,
esse conteúdo ganha forma.

tem um momento em que desinvento o instante possível,
porque já haverão partido o par de tênis verdes,
a camisa amarela,
o bom retiro deles,
o jeans novo azul escurecido,
o céu enferrujado,
o sol entristecido,
o calor requentado, a água morna pra fora da boca,
a louca da esquina cansada, como se cansaço não lhe coubesse,
os dentes desistentes de nascer em crianças,
as danças desfeitas em uma preguiça musical,
uma palavra que pulou para fora da frase
e: arre!

quando eu chegar já terá sido...
nada mais será meu e nem real.

minha realidade foi inventada por qualquer sujeito,
cantou, assim mesmo, de um jeito bobo,
sem força, sem coragem,
cheio de preguiça e,
assim mesmo,
naquela falta de tudo estive.

ai...

meus temperos agora sem gosto.
minhas panelas destampadas com a água de tanto fervida também secada!

minha saudade, por que, me diz, só minha saudade não se faz evaporada?

:

agonia:
desespero: reverso da resignação:
é saber que não se tem jeito e ainda assim não haver aceitação!

enverga-se, entorta, desgoverna:
vão palavras, chafurdem aquilo que não posso ou sei!

vão artérias, veias, compassos: eeeeeeeeeeeei!

que se percam os pulsos, as pulsações:

é preciso alguma falta de sentido no meio do aviso prévio:
da cara lavada:
do tédio!

eia: sigamos:
aos impulsos e arroubos femininos das paixões:

amores bons!

quero afetos positivos.

ao resto: o meu cansaço de destino!

quero agora somente um sossego, um colo e pouco de vinho.

17.7.11

:

grita então, grita. 
de uma vez só se agita 
e risca o chão 
com alguma faca afiada que desarme essa minha alma alada que nunca fica, 
só vai, 
voando sempre sem voltar jamais. 
sai de mim se for capaz! 
mais ainda: 
tira-me para dentro de si se for bem forte, 
meu rapaz! 
mas, do contrário: záz!

:



hoje se rebuliçou daqui uma coisa corroída.
roída.
uma ida, uma ida uma ida que não vai nunca nem finda.

hoje em mim por dentro um grito baixo eu soltei.
sorrindo por fora.
tudo é azul, amarelo e pedra lilás.

_vai embora...

não quero mais, não quero mais, não mais.
ai, meus ais...
cada ai que sai desamargura um trecho, afrouxa uma musculatura e na tessitura de cada um desses rangidos, meu amigo, eu vou rugindo, rangindo dentes e serpentes.

não me ponha panos quentes, hoje é sexta e vou me desarvorar, me desflorestar, me desarrematar e desabastecer na farra de alguma virtualidade possível.
me embriagarei de várias teclas e beberei de muitas setas, de cursores e humores, de curtir em curtir vou encher meu papo de galinha assada em resistência à cabidela!

chega de me rir de mim mesmo: vou fugir torresmo em vegetais: quero ser pepino no cu dos outros, quero ser a cara entortada da tua vizinha quando eu passar, quero assar em mar quente pegando fogo, quero virar esse jogo, desdobrar essa palavra, essa coisa fechada que não me deixa viajar pra lugar, que me prende: que se abra, que se abra que se abra!

alguém aqui comigo se rende?

:



deveria dormir.
tomar banho, comer, dormir...
normal.

pintei uma unha de azul jeans intenso.
precisei de cor e de incenso
mas lembrei em mim alguma alergia a cheiros...
que cheiros, meu Deus?
ando tão esquecido!

poleiros adormecidos de mim mesmo.
canteiros em desconstrução do que vejo e nem se quer percebo.

quero colo?
deveria dormir, já que fiquei sozinho, que a casa está vazia.

banho, cama, comida, roupa lavada, quente e fria.

meus cheiros...
meus meios...
um derradeiro pedido a mim mesmo:
vai, vai vai!

arrebate-me os dedos, os medos e os ais!


7.6.11

: jeito: peito: feito!


ele abriu o braço direito.
uma música deitava ali.
a cama se estica, estica tudo.
ele ria, ia, o tempo junto.

tudo se desfazia em lentidão de sorrisos.

e um mundo de sombras pálidas que aconteciam em volta.

ouve?
tem uma voz... mas parece flauta!
ouve? é doce. eu a ouço agora
e abro meu braço direito para que a música se deite você em meu peito.

uma hora que era antes cansada: sagrada hora da primavera de água de meninos.

rimos, rimos, rimos!

tudo em cima de tudo, juntando, correndo, lá fora o que fora fosse, morrendo.

por dentro o menino de cócoras desdobra os joelhos.

entra agora uma bateria.
escuta!

escuta!

uma bateria, um ritmo, é coração que se abre e grita e desenfarta, desabafa, desatina sem doer!

vem, tem música em meu peito,
vem, morando em meu peito: vem!

tem música!

tem rima e música.

vem menino: ainda tem jeito!

: UM MINUTO DE SILÊNCIO



por dentro do corpo calado
o mudo se debate
rebate
aquieta, menino!
por dentro do tempo parado
o muro se contorce
retorce
desce daí menino!

volta, contorna e nunca se torna.
para onde?
como?

lá se vai ladeira abaixo!

que ladeira é essa?
onde deu a estrada?
em que quina,
que esquina virou
em que rima se perdeu?

quede o menino?
quede o grito o calo de sangue no espaço?

lá dentro, um corpo de cócoras.
ajoelha-se e reza.

pede a Deus para dormir logo.

lá dentro tem pêlo de gato,
novelo, tudo esparramado.

tudo mofado.

lá dentro tem crença?
em quem?
de quando?

cadê o menino: o sorriso: o cinzeiro?

que mais tem lá dentro?

um minuto de silêncio dura quanto tempo?

:abraço bom pro povo que cuida de mim sem saber.

UMA SAUDADE QUE ISSO ME DEU DE MIM:

17-04-2008

nele houve o insano projeto
de envelhecer sem rotina;
e ele o viveu, despelando-se
de toda pele que o tinha.

sem medo, lavava as mãos
do que até então vinha sendo:
de noite saltava os muros,
saía a novos serenos.

:o nome é HOMENAGEM A PAUL KLEE,
de João Cabral de Melo Neto.

:trocando peles ainda. sempre!
:indo e vindo...
:que cobra virá surgindo?

6.5.11

quer?

tudo o que vaza é sobra?
transborda.
borda em mim?

amor e ódio em roda.
cola?
descola pra mim?

desdobrar em rebento.
aumento.
ou dobrando diminui?

me aumente a água
que seja sol e sombra.
o resto seja nada.

lágrima de volta.
solta, solta, solta!
lágrima, nos solta!
nem tudo é só o que se é.

palavra: revelando:
quer?

2.5.11

pelo dia branco.

o problema é que sou de uma qualidade líquida que me faz caber. 


se não cabe, escorro.


mas só escorre aquilo que não cabe.


e me deixa assim por dentro.


um tempo.


movimento de centro de gravidade desativado.


cuidado!


não retire da frente as tigelas.


eu quero me desaguar.


e me veja assim ungüento


passeando corpo e mão


perfumando coração e idéia.


por um tempo de entendimento alvoroçado.


tem coisas que me devoram o sono.


tem coisas que eu mesmo como.


quer saber?


a qualidade não é problema.


o dilema é caber!